segunda-feira, 30 de maio de 2011

listen to the music

Ando tendo um distúrbio que, de tão constante, merece uma digivolução conceitual: fones de ouvido.

A função do benedito é a aquela que os nossos amigos (?) funkeiros desconhecem: particularizar o som. Tenho lá as minhas teorias fajutas sobre os prós e contras dessa funcionalidade, já que ela , apesar de benéfica em sua grande parte, acaba prejudicando as relações humanas.

Mas a discussão não é essa. Acontece que, os estéreos estão lá, nos meus ouvidos, enfiados na concavidade orelhudística, ou transpassando a juba e me fazendo carinho com a espuma, quando, de repente...percebo não estar escutando nada. Isso mesmo, meus camaradas. Eu, aquela menina cabeluda, que tanto gosta de música, simplesmente sofre um lapso de existência e pára de utilizar a coisa como deveria ser.

Deixe-me explicar.

Quando eu retiro o portátil e perco um tempo desenrolando os fios, a intenção é aquela, nobre, que todos conhecemos e concordamos. Aperto o play, seja ele do meu celular ou da minha tela LCD (infelizmente eu não possuo um ipod, só um mp4 com uma mancha laranja na tela, no formato de um chafariz, que não me permite “ver” o que eu estou ouvindo), e inicio a apreciação ou alienação musical como todo bom ouvinte. É quando acontece. E eu não sei a que horas, à que altura da estrada, em que pesquisa ou conversa no facebook eu estava quando a playlist acaba. Quando dou-me conta, o objeto está lá, inutilizado, estranho, há não sei quanto tempo.

Vim aqui pra externar a coisa, por causa da repetição desse acontecimento. E, de recorrente, me dispus a analisar. Eis que sofri a epifania. Atribuí uma nova utilidade ao brinquedinho (agora posso chamá-lo do que eu quiser). Eu preferi definir isso como apego.

O fato de estar com o fone quieto arressoando nos tímpanos, não significa, necessariamente, a interrupção do som. Já diria Wisnik - arrebatando meus sentidos -, que o ruído é som; silêncio é música. E na quietude plena e engraçada da não-música na cabeça, cria-se espaço pra escuta universal da música no ambiente. E what an experience a descoberta de um mundo harmônico.

O apego, refere-se a, tendo descoberto isso em mim, precisar do fone para reviver a sensação. É claro, depois que percebi o acontecimento, passei a prestar atenção.

A última vez que me lembro, deu-se noite passada. Estava eu, marota, navegando, como uma boa e alfabetizada cibercidadã que sou, quando, BANG: fones silenciosos. Ok, hora de curtir a descoberta. Cooler do computador, cigarras, caminhão do lixo, cachorros latindo e gemidos.

Gemidos? Deparo-me com mãe e pai (calma, leiam o resto da história) dormindo (ufa), com a TV ligada no Mulstishow. Hora do soft porn. Levei um susto, mas logo entendi que já dormiam na frente da televisão muito antes da sacanagem começar. A minha mãe acorda confusa e dispara um “o que é isso, meu Deus?” que me faz rir. Desliga o aparelho. O silêncio-música aumenta, aumenta...até que me atordoa.

Então, eu me rendo. Abro a pasta mais próxima e boto pra tocar qualquer coisa.

Preciso de drogas mais pesadas. Preciso dos acordes.