quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Percebendo, dois pontos




Ali, onde estava silencioso, eu experimentei um céu azul sem fim, que fazia intervalo na montanha erguendo-se à minha esquerda. Lembro-me da sensação quente e constante de permanecer olhando para o alto, olhos forçados no limite da visão, sentada numa canga que não era minha, mas que gostava. Era tudo estranhamente tranquilo. Inclusive o conhecer da tranquilidade iminente.
A luz do sol resplandecia desavergonhadamente na água verde-clara que servia de espelho e berço para os sorrisos dos adultos que se encontravam infantis nela: era tudo admiravelmente tranquilo. Ao meu lado, empadas e sanduíches naturais não-vendidos, reclamavam no discurso mal composto das vendedoras manchadas de sol. Gostei de aprender a receita do pastel de forno - vou tentar fazer - elas não souberam disso. Sequer se deram conta da minha presença inerte de ouvidos aguçados e olhos discretos. Quão divertidamente tranquila eu estava! Vi uma criança fazendo um castelo de areia genial que, eu, certamente não faria. Olhei meus amigos ao longe, molhados. Recuperei meus pés do massarico que vinha de cima e os acolhei ao peito que estava num pedaço de sombra magnífico.
Pensei, então, que todas essas simples considerações eram deliciosamente narráveis e procurei com urgência uma caneta. Precisava deleitar-me sobre as minhas tão queridas e adormecidas palavras! Amigas, beirando sempre o precipício do meu imaginário, anciando qualquer vacilo lúcido (ou não).
O verbo estava ali e precisava se tornar carne.
Não encontrei a tinta. Tampouco o papel.
Tudo de súbito, estava inquietamente tranquilo.
Tudo de súbito, estava tranquilamente inquieto.
Tudo de súbito, estava inquieto. Tranquilo.

Mergulhei.

Um comentário:

  1. Sensações boas que dão margem a inspiração são fantásticas mesmo, normalmente tenho vontade de escrever o que estou sentindo quando não tenho nada por perto pra escrever, e se deixo pra depois.. Não é a mesma coisa, chato demais isso! rsrs

    Bjão!
    :*

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